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Por que as Universidades brasileiras continuam adotando o modelo eleição dos EUA?

A eleição para reitor da UFCG promete igualdade com o voto paritário, mas o poder final ainda está nas mãos do colegiado, dominado por docentes. A paridade anunciada pode não passar de uma ilusão.

Souza Júnior, Xisto Serafim

A Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) se prepara para mais uma eleição de reitor e vice-reitor, marcada para os dias 3 e 10 de dezembro, sem previsão de segundo turno. Desta vez, o processo eleitoral traz uma mudança significativa: a introdução do voto paritário, onde docentes, estudantes e técnicos administrativos terão, teoricamente, o mesmo peso na consulta pública, dividindo-se em uma proporção de 1/3 cada. Contudo, a realidade pode revelar um cenário bem diferente, levando muitos a questionar se a paridade, tão alardeada, não passa de uma ficção.

O sistema de votação paritário visa oferecer equidade entre os diferentes segmentos da comunidade universitária. Estudantes e técnicos administrativos, que historicamente tiveram menos peso nos processos decisórios, terão agora igual proporção de influência sobre o resultado da consulta, ao lado dos professores. Essa mudança é, sem dúvida, uma vitória simbólica, sugerindo um caminho rumo a uma maior inclusão e participação de todas as vozes na universidade. No entanto, a análise crítica do modelo eleitoral e do poder decisório final revela uma contradição que torna essa paridade superficial.

A consulta paritária será submetida ao crivo do colegiado pleno, responsável por formular a lista tríplice a ser enviada ao Ministério da Educação. É aqui que o modelo de eleição norte-americana, com suas peculiaridades e contradições, ganha uma analogia importante. Assim como no sistema dos Estados Unidos, onde o voto popular é um indicativo, mas não necessariamente determinante, na UFCG, a decisão final está nas mãos do colegiado, que adota um critério proporcional: 70% dos votos do colegiado pertencem ao corpo docente, enquanto técnicos e estudantes somam apenas 15% cada. Essa composição é um reflexo claro de uma disparidade de poder, contrariando a ideia de um voto verdadeiramente paritário.

Na prática, mesmo que a consulta popular demonstre uma forte inclinação para determinado candidato ou candidata, o peso do colegiado — majoritariamente composto por docentes — pode desvirtuar essa escolha inicial. A analogia com o Colégio Eleitoral dos Estados Unidos se fortalece, já que o processo interno da UFCG segue uma lógica semelhante: a consulta popular age como uma espécie de “voto popular” não vinculante, enquanto o colegiado pleno assume o papel de um “colégio eleitoral”, cuja decisão final pode, eventualmente, contrariar a vontade expressa nas urnas.

Ao adotar o modelo de 70/15/15, a UFCG mantém uma estrutura de poder que favorece o corpo docente, conferindo-lhe a última palavra sobre quem irá compor a lista tríplice, que será enviada ao governo federal. A alegada paridade no voto não resiste a uma análise crítica, pois a consulta, embora simbólica e importante, não vincula o resultado. A decisão final, com o peso massivo dos professores, desafia o espírito democrático que a proposta de paridade parece buscar.

Além disso, o contexto brasileiro de nomeação de reitores, frequentemente marcado por intervenções políticas e nomeações contrárias à escolha majoritária da comunidade acadêmica, reforça a necessidade de repensar esse modelo. A democracia universitária, assim como a democracia eleitoral nos Estados Unidos, enfrenta o desafio de equilibrar o poder decisório entre diferentes grupos, sem transformar a consulta popular em um ato meramente simbólico.

Portanto, a paridade defendida para a eleição na UFCG é, em grande parte, uma construção retórica. Na prática, o poder segue concentrado, e a estrutura do colegiado pleno replica um modelo que, embora democrático na forma, revela-se desigual no conteúdo. A universidade, espaço de formação crítica e cidadã, deveria, talvez, refletir com mais profundidade sobre o que realmente significa dar voz igualitária a toda a sua comunidade. Enquanto o sistema atual permanecer, a paridade continuará sendo mais uma utopia do que uma realidade concreta.

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