Por Xisto Souza Júnior*
A vitória da Chapa 3 reforça a democracia na UFCG, com voto paritário, tecnologia e ampla participação estudantil marcando uma eleição histórica.
Campina Grande, 11 de dezembro de 2024— Após uma intensa campanha marcada pelo contato direto com a comunidade acadêmica em todos os campi, a Chapa 3, liderada pelo professor Camilo Farias e pela professora Fernanda Leal, conquistou uma vitória expressiva no pleito para reitor e vice-reitora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Com 61,32% dos votos, a chapa confirmou o favoritismo e trouxe novas esperanças de reconstrução democrática à instituição.
A eleição, que se encerrou às 22 horas da última terça-feira, representou um momento histórico para a comunidade acadêmica, simbolizando a superação de um período marcado pela nomeação controversa de 2020, quando o então presidente Jair Bolsonaro escolheu o terceiro colocado para a reitoria. A vitória da Chapa 3 também reforça o compromisso com a gestão participativa e a autonomia universitária.
A paridade, a atuação sindical e a adoção do sistema virtual de votação e apuração
Entre as novidades que marcaram este pleito, destaca-se a adoção do voto paritário. Pela primeira vez, os votos de docentes, técnicos e discentes tiveram pesos equivalentes, garantindo maior equidade no processo de consulta. Essa mudança foi celebrada pela comunidade acadêmica como um avanço significativo em direção à democratização interna da UFCG.
Contudo, é importante ressaltar que essa paridade não será replicada no colegiado pleno, devido às limitações impostas pela legislação vigente. Ainda assim, o uso desse modelo no processo de consulta é um marco que pode influenciar futuros debates sobre a gestão democrática nas universidades brasileiras.
Outro elemento inovador foi o uso do sistema SIGAA Eleições, uma plataforma virtual que trouxe agilidade e segurança ao processo. Desenvolvido pela equipe técnica do STI da UFCG, o sistema foi elogiado pela comunidade por sua funcionalidade e transparência. Além de facilitar o registro e a apuração dos votos, a plataforma também contribuiu para reduzir custos e minimizar impactos logísticos.
“A adoção do SIGAA Eleições demonstrou o potencial da tecnologia para modernizar processos administrativos e acadêmicos. A equipe do STI merece aplausos pelo profissionalismo e pela dedicação em garantir o sucesso do pleito”, destacou um dos integrantes da comissão eleitoral.
Apesar dos avanços, o processo eleitoral não foi isento de críticas. A delegação da organização do pleito aos sindicatos foi, segundo a concepção de muitos membros da comunidade, uma decisão equivocada. Problemas como a falta de atualizações no site oficial, a demora na resposta às demandas e dificuldades na organização de debates foram apontados como fragilidades que comprometeram parcialmente a experiência eleitoral.
Participação estudantil em destaque
Um dos aspectos mais notáveis desta eleição foi o aumento expressivo da participação estudantil. Motivados pela introdução do voto paritário e pelo desejo de reconquistar a autonomia universitária, milhares de estudantes compareceram às urnas virtuais. Embora tenha havido uma leve redução na participação de docentes (84,49% em 2024 contra 89,5% em 2020) e estabilidade entre os técnicos (80,85%), o engajamento estudantil compensou essa diferença.
“Esse pleito foi um grito coletivo de renovação. A comunidade acadêmica mostrou que está comprometida com o futuro da UFCG e com a construção de uma universidade mais democrática e inclusiva”, declarou a professora Fernanda Leal, vice-reitora eleita.
Uma vitória com significado político
A vitória da Chapa 3 também foi carregada de simbolismo político. O resultado de 61,32% contra 38,68% da Chapa 1 foi interpretado como uma rejeição às práticas intervencionistas do governo Bolsonaro, que nomeou o terceiro colocado do pleito anterior para a reitoria. A comunidade acadêmica, ao eleger Camilo Farias e Fernanda Leal, expressou um desejo claro de autonomia e respeito à vontade majoritária.
“Essa vitória não é apenas da nossa chapa, mas de toda a comunidade acadêmica que se uniu em prol da democracia. A UFCG reafirma seu compromisso com a liberdade acadêmica e com a gestão participativa”, afirmou o professor Camilo Farias.
Próximos passos: o colegiado pleno deve referendar a decisão da comunidade
Com a consulta encerrada, cabe agora ao colegiado pleno referendar o resultado das urnas. A expectativa é de que a decisão da maioria seja respeitada, consolidando a transição para a nova gestão. A Chapa 3 assume o compromisso de implementar um projeto de universidade que privilegie a inclusão, a transparência e a valorização de todos os segmentos da comunidade acadêmica.
A vitória também reacende o debate sobre a necessidade de revisão das normativas que regem o processo de escolha de dirigentes universitários, buscando alinhar o modelo vigente às demandas democráticas da sociedade.
O sol volta à brilhar:
O pleito de 2024 entra para a história da UFCG como um marco de renovação e resistência. A vitória da Chapa 3, com ampla maioria, demonstra a força de uma comunidade acadêmica que, unida, buscou superar desafios e reafirmar os princípios democráticos que norteiam a educação pública.
Agora, a expectativa recai sobre o futuro. Com Camilo Farias e Fernanda Leal à frente da reitoria, a UFCG se prepara para um novo ciclo, pautado pela inclusão, pelo diálogo e pela construção coletiva de uma universidade que seja, verdadeiramente, um espaço de todos e para todos.
* Doutor em Geografia e professor da Universidade Federal de Campina Grande