Apesar do crescimento observado em 2020 durante a primeira eleição remota, o curto prazo para adaptação ao novo sistema gera incertezas. O engajamento pode superar as estatísticas ou enfrentar um retrocesso?
Por: Xisto Souza Júnior
Desde 2008, a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) registra um histórico de eleições para reitor que reflete não apenas a escolha democrática de seus representantes, mas também a evolução da participação de suas três principais categorias: técnicos administrativos, docentes e estudantes. No entanto, em meio a um cenário de transição tecnológica e desafios logísticos, a questão que se impõe em 2024 é: a tendência histórica será mantida ou a participação pode superar as estatísticas?
Uma Análise Histórica da Participação
A análise dos dados das eleições anteriores revela uma tendência geral de engajamento variável entre as categorias. Em 2008, a participação foi marcante entre técnicos (54,17%) e professores (52,98%), enquanto os estudantes apresentaram um índice significativamente menor (21,99%).
Já em 2016*, a taxa de comparecimento dos docentes subiu consideravelmente para 77,6%, enquanto a dos técnicos se manteve estável em 50%. Os estudantes apresentaram uma leve melhora, com 27,8%. A partir desse ano, ficou evidente uma mobilização crescente entre os docentes, destacando sua posição de protagonismo no processo eleitoral.
Em 2020, a pandemia da COVID-19 forçou a UFCG a adotar um modelo remoto de votação. Surpreendentemente, essa mudança resultou em um aumento expressivo na participação: 82% dos técnicos, 89,47% dos professores e 33% dos estudantes. Essa foi a primeira vez que todas as categorias superaram suas médias anteriores, sugerindo que o formato remoto trouxe um impacto positivo na acessibilidade ao processo eleitoral.
2024: Desafios e Expectativas
Com a eleição deste ano sendo realizada no ambiente virtual SIGAA, as dúvidas quanto à adesão permanecem. Embora as votações remotas em 2020 tenham demonstrado sucesso, a falta de treinamento e adequação do sistema pode ser um obstáculo. A lista preliminar aponta 1264 técnicos, 1548 professores e 17.583 estudantes aptos a votar.
Com base na tendência de aumento na participação em ambientes virtuais, há potencial para que as categorias técnicas e docentes mantenham ou superem os números de 2020. No entanto, o grande desafio recai sobre os estudantes, que historicamente têm apresentado menor engajamento.
De fato, apesar do aumento na participação geral em 2020, a baixa adesão dos estudantes permanece uma preocupação significativa. Mesmo com uma melhora, o índice ainda ficou bem abaixo das outras categorias, que registraram alta participação. Essa discrepância levanta questionamentos sobre o engajamento estudantil no processo democrático da universidade. Caso essa tendência persista em 2024, a falta de uma representatividade mais ampla pode comprometer a legitimidade das decisões e enfraquecer o papel dos estudantes como agentes ativos no futuro institucional da UFCG.
Conclusão: Superação ou Repetição?
A história mostra que mudanças no formato de votação impactam diretamente a participação. Embora a adesão ao SIGAA traga incertezas, a experiência de 2020 sugere que o ambiente virtual pode incentivar maior participação. A grande questão que a comunidade universitária enfrentará é se conseguirá superar as barreiras logísticas e atingir uma taxa de participação que transcenda as médias históricas, consolidando um novo padrão democrático na UFCG.
As urnas digitais dirão se a tendência será confirmada ou se uma nova realidade de engajamento emergirá em 2024.
Se a adesão ao sistema SIGAA superar as dificuldades iniciais, a eleição de 2024 poderá marcar uma nova era de participação democrática na universidade. Caso contrário, o resultado pode refletir um retrocesso e levantar questões sobre a eficácia de processos virtuais sem a devida preparação.
Independentemente do desfecho, a eleição deste ano não será apenas uma escolha de representantes, mas também um termômetro da capacidade da UFCG de se adaptar a novas realidades e de fortalecer sua democracia interna.
PESQUISA DE OPINIÃO: qual será o cenário?
Amanhã, 02 de dezembro, o Grupo de Pesquisas GIDs divulgará sua terceira pesquisa de opinião sobre as tendências para a escolha de reitor ou reitora da UFCG para o quadriênio 2025-2028. Essa pesquisa busca transcender os números e revelar as percepções qualitativas da comunidade universitária, trazendo à tona questões que vão além dos índices de participação.
Ao longo dos últimos meses, o GIDs tem sido uma peça-chave na construção de um debate mais amplo e inclusivo sobre o futuro da universidade. Com a realização de lives informativas, pesquisas de opinião e a organização de debates, o grupo tem trabalhado para aproximar técnicos, docentes e estudantes das discussões sobre gestão universitária. Essa abordagem não apenas promove uma maior conscientização, mas também dá voz às diferentes perspectivas, permitindo que o processo eleitoral seja visto sob uma ótica mais humanizada.
A pesquisa a ser apresentada coloca em debate os fundamentos da tendência de participação histórica em detrimento de uma análise puramente numérica. Embora os dados estatísticos forneçam uma base metodológica sólida, eles não conseguem captar plenamente as motivações, preocupações e expectativas dos membros da comunidade universitária. Nesse contexto, a pesquisa qualitativa do GIDs oferece uma visão mais profunda sobre o cenário atual, refletindo sentimentos e opiniões que podem influenciar diretamente o engajamento e as escolhas durante a eleição.
Com essa iniciativa, o GIDs reafirma seu compromisso com a construção de uma universidade mais democrática e participativa, onde as decisões não sejam apenas um reflexo de números, mas sim de uma compreensão abrangente das necessidades e aspirações de todos os segmentos da UFCG. A divulgação dessa pesquisa será, portanto, um marco para consolidar a importância do diálogo e da reflexão crítica no processo eleitoral.
* Até o fechamento do texto não conseguimos dados de 2012.