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Trump e a Nova Guerra Mundial: O Impacto Econômico de um Isolamento Estratégico

À medida que Donald Trump avança com uma política externa marcada pelo protecionismo e pelo isolamento estratégico, o mundo enfrenta um novo cenário de incertezas.

Xisto Souza Júnior*

Campina Grande, 05 de março de 2025 – As recentes decisões do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm reacendido debates sobre as consequências de um isolacionismo econômico em um mundo cada vez mais interconectado. Especialistas apontam que as medidas protecionistas adotadas pelo governo Trump, incluindo a taxação de importações e o rompimento de acordos estratégicos, podem desencadear uma crise sem precedentes.

As respostas do mercado foram imediatas. Os principais índices da bolsa norte-americana registraram quedas significativas após os anúncios de novas sanções comerciais e taxações impostas por Trump à exemplo do recuo de 2,64% da Nasdaq, 1,47% do Dow Jones e os impressionantes 8% da NVIDIA (confira aqui).

Além disso, a produção industrial dos Estados Unidos registrou retração em fevereiro, sinalizando um possível período de recessão. Enquanto isso, a economia chinesa seguiu na contramão, voltando a crescer no mesmo período, o que fortalece a posição do país asiático no cenário econômico global.

Uma das medidas mais controversas de Trump foi a imposição de tarifas sobre o petróleo e a energia elétrica do Canadá. A taxação de 10% sobre a importação desses insumos pode elevar significativamente o custo da gasolina e impactar diretamente os preços nos Estados Unidos.

A decisão levanta questionamentos sobre a viabilidade de uma economia norte-americana isolada. Historicamente, os EUA dependem de importações para suprir suas necessidades industriais e de consumo. Por exemplo, o país precisa importar cerca de 40% do aço utilizado em sua produção, adquirindo-o de países como Brasil, Coreia do Sul e Japão. Com a imposição de novas tarifas, especialistas preveem um aumento nos custos de produção, resultando em inflação e perda de competitividade no mercado global.

A postura de Trump está redesenhando alianças globais. Enquanto os EUA se afastam de seus parceiros tradicionais, a China vem fortalecendo laços com a Europa e com o Sul Global. Dados recentes apontam que 140 dos 193 países membros da ONU têm a China como principal parceiro comercial, o que reforça a ascensão do país como potência econômica mundial.

Além disso, a situação da Ucrânia também foi afetada pelas novas diretrizes do governo Trump. A decisão de suspender toda a ajuda militar ao país causou forte indignação na União Europeia, que agora busca novas alternativas para financiar a defesa ucraniana sem depender dos Estados Unidos. O bloco já discute um pacote de 150 bilhões de euros para compensar a ausência do apoio norte-americano.

A Guerra não é militar, mas já começou

Especialistas apontam que estamos diante de uma nova forma de guerra global – uma guerra econômica. As decisões de Trump não apenas impactam os Estados Unidos, mas também reconfiguram as dinâmicas do comércio internacional. Diferente dos conflitos militares tradicionais, essa guerra é travada através de sanções, barreiras comerciais e controle sobre recursos estratégicos.

As implicações dessas medidas podem ser profundas. O protecionismo exacerbado pode gerar uma reação em cadeia, levando a uma redução do crescimento global e ao fortalecimento de blocos econômicos alternativos sem a presença norte-americana.

Apesar das ações unilaterais de Trump, há sinais de resistência dentro do próprio Congresso norte-americano. No Senado, lideranças republicanas tradicionalistas já demonstraram descontentamento com algumas decisões do ex-presidente. O resultado das próximas eleições legislativas pode ser decisivo para determinar se essas políticas protecionistas continuarão ou serão revertidas.

Outra questão que preocupa analistas é o impacto dessas medidas sobre a população norte-americana. Com o aumento do custo de vida e a incerteza econômica, há um risco real de que eleitores que anteriormente apoiaram Trump reconsiderem sua posição nas urnas.

O mundo está em um momento de transição. As decisões tomadas pelos Estados Unidos nos próximos anos terão impactos diretos não apenas na economia americana, mas também na configuração da ordem global. A grande questão que permanece é: os EUA conseguirão manter sua liderança global enquanto adotam uma postura isolacionista?

A resposta para essa pergunta será decisiva para definir o futuro da economia mundial nas próximas décadas

* Professor da UFCG

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