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Três Motivos Para Acreditar Que a Ofensiva de Trump Foi um Tiro No Pé

No tabuleiro da geopolítica, um movimento mal calculado pode custar caro. Ao transformar um aliado em adversário diante das câmeras, Trump não apenas expôs fragilidades diplomáticas, mas também abriu espaço para que a Europa e a Rússia redesenhassem seu papel no cenário global. Afinal, quando a estratégia se torna caos, quem realmente sai ganhando?

Prof. Xisto Souza Júnior

Campina Grande, 03 de março de 2025: Donald Trump não é conhecido exatamente pelo seu tato diplomático. Mas sua recente interação com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, levou essa caractérística a um novo patamar. O encontro no Salão Oval, que deveria fortalecer laços e consolidar alianças, acabou virando um show de tensão geopolítica, com pitadas de reality show.

Ao adotar uma postura confrontativa e colocar em xeque o apoio dos EUA à Ucrânia, Trump não apenas gerou turbulência na diplomacia internacional, mas também reconfigurou as dinâmicas de poder entre Washington, Moscou e Bruxelas. A questão agora é: essa estratégia reforça a liderança dos EUA ou compromete sua credibilidade global?

Aqui estão três motivos para acreditar que essa ofensiva foi um erro estratégico de grandes proporções.


1. Transformou Zelensky em Vítima e a Europa em Aliada Ainda Mais Leal

Ao adotar um tom agressivo e permitir que seu vice, J.D. Vance, escalasse a discussão, Trump pode ter inadvertidamente transformado Zelensky em um herói injustiçado. O presidente ucraniano, que já luta para manter o apoio ocidental, saiu da reunião como um homem que tentou negociar, mas foi humilhado. O resultado? Líderes europeus rapidamente demonstraram apoio, reforçando a narrativa de que a Ucrânia precisa de suporte contra a ofensiva russa.

O efeito colateral dessa postura pode ser uma maior autonomia da Europa em relação aos Estados Unidos. Caso os aliados europeus sintam que não podem mais confiar na proteção americana, pode haver um aumento nos investimentos em defesa e uma aproximação com outros parceiros, como Japão e Austrália. Isso pode redefinir o papel dos EUA no tabuleiro global, tornando-os menos centrais no eixo de defesa do Ocidente.


2. Criou Um Constrangimento Desnecessário Para Sua Própria Base

Ser firme nas negociações é uma coisa. Criar uma cena pública, digna de um debate de reality show, é outra completamente diferente. Muitos aliados de Trump dentro dos Estados Unidos preferem um estilo mais pragmático e menos teatral nas relações internacionais. Expor abertamente divergências, sem necessidade, pode ter enfraquecido a percepção de liderança forte e calculista que ele tenta manter. O que deveria ser uma demonstração de autoridade virou um festival de tensão desnecessária.

Além disso, esse tipo de abordagem pode ter reflexos na própria imagem de Trump perante os eleitores americanos. Muitos conservadores, apesar de apoiarem uma política “America First”, também valorizam alianças históricas. Se Trump continuar a afastar aliados, pode acabar isolando os EUA no cenário global e, por tabela, enfraquecendo sua própria base eleitoral nas próximas eleições.


3. Aproximou os EUA da Rússia de Forma Alarmante

Trump já vinha flertando com uma postura mais amigável em relação a Moscou, mas essa reunião pode ter selado essa mudança de forma mais contundente. A mensagem que ficou é clara: os EUA estão dispostos a se distanciar da Ucrânia e considerar um acordo com a Rússia. Isso não só preocupa aliados históricos dos EUA, como também abre espaço para que a China e a União Europeia redefinam seus papéis no tabuleiro geopolítico.

Se a ideia era reforçar a posição dos EUA como uma potência global, Trump pode ter conseguido exatamente o oposto. Uma aproximação excessiva com Putin pode levar a uma reação mais dura da União Europeia e, possivelmente, acelerar a transição para um mundo multipolar, onde potências regionais tenham mais peso nas decisões globais.


Impacto Geopolítico: O Que Pode Mudar?

A grande consequência da estratégia de Trump é o possível enfraquecimento da influência americana sobre a Europa e outras democracias ocidentais. Caso a Ucrânia perca apoio dos EUA, a União Europeia pode se ver forçada a assumir um papel maior na defesa continental. Isso poderia resultar em:

  • Aceleração da militarização europeia, com países como Alemanha e França investindo mais em defesa para compensar uma eventual retirada dos EUA.
  • Fortalecimento da China e Rússia, que podem expandir suas influências sobre países historicamente alinhados com Washington.
  • Redesenho das alianças militares, com a OTAN enfrentando um possível reequilíbrio interno se os EUA reduzirem seu compromisso.

Em termos estratégicos, o maior risco para os EUA é que essa mudança de postura abra espaço para a China assumir um papel ainda mais influente na diplomacia global. Com um Ocidente fragmentado, Pequim pode se consolidar como um mediador diplomático e econômico mais confiável do que Washington.


Conclusão: Quando a Pressão Sai Pela Culatra

A estratégia de Trump poderia ter sido mais bem calculada. No fim, ele conseguiu gerar manchetes explosivas, mas às custas de sua própria diplomacia. Zelensky saiu fortalecido perante a opinião internacional, a Europa se uniu ainda mais em torno da Ucrânia e a imagem dos EUA como um parceiro confiável ficou, no mínimo, abalada.

Se essa era a tática de negociação de Trump, talvez ele devesse considerar um outro caminho. Porque até agora, o único alvo atingido por sua ofensiva parece ter sido ele mesmo.

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